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6 de setembro de 2025

Porta austral do Chile, de frente para o mítico Estreito de Magalhães, Punta Arenas é muito mais do que uma escala para cruzeiros de expedição. É um lugar que capta a alma da exploração: entre cultura multicultural, fauna única, paisagens remotas e sabores marcantes.

Aqui, nos confins do mundo, o extremo sul torna-se ponto de partida. Punta Arenas muitas vezes marca o início — ou o fim — de um itinerário para a Antártica ou a Patagônia Austral. Situada a mais de 3.000 km de Santiago do Chile, é a cidade continental mais ao sul do país e uma das mais isoladas do planeta.

Fundada em 1848 como colônia penal, Punta Arenas viveu um florescimento notável entre os séculos XIX e XX, quando se tornou ponto central do comércio marítimo e polo de produção de lã. Isso se reflete nos elegantes edifícios antigos que ainda adornam o centro, patrimônio que conta a herança dos imigrantes europeus — especialmente croatas, escoceses e alemães — que deixaram marcas profundas.

A melhor maneira de começar a explorar Punta Arenas é subir ao Mirador Cerro La Cruz. Do mirante, facilmente acessível a pé desde o centro histórico, desfruta‑se uma vista inigualável da cidade, do porto e do Estreito de Magalhães, cujas águas escuras parecem traçar uma fronteira entre mundos. Aqui o olhar se perde rumo ao infinito austral, onde navios de cruzeiro parecem pontos minúsculos rumando à Antártica. É um ótimo lugar para se orientar, tirar fotos e saborear a atmosfera peculiar de Punta Arenas, suspensa entre vento, céu e mar.

A cidade oferece vários museus interessantes para quem quer mergulhar na cultura e na história da região. O mais conhecido é o Museo Salesiano Maggiorino Borgatello, com coleções que vão da fauna local à vida de povos indígenas como os Yámana, Kawésqar e Ona. Outra experiência surpreendente é visitar o Museo Nao Victoria, nos arredores da cidade. Ali, em um estaleiro‑museu a céu aberto, estão ancoradas réplicas em escala real da Nao Victoria de Magalhães, do Beagle de Darwin e de outras embarcações históricas. É uma viagem no tempo que emociona adultos e crianças, evocando o espírito de descoberta das modernas expedições de cruzeiro.

Também o paladar encontra em Punta Arenas um território de exploração. A culinária patagônica é direta, alimentada por ingredientes selvagens e de qualidade: o cordeiro criado nas estepes ventosas, os frutos do mar do Pacífico gelado, as frutas nativas como o calafate. A especialidade mais emblemática é o asado de cordero al palo, cordeiro cozido lentamente em grelhas verticais junto ao fogo, frequentemente servido ao ar livre em restaurantes rústicos ou estâncias locais. Mas imperdíveis são também as centollas (caranguejos reais), servidas em sopas cremosas ou pratos principais, e o congrio, peixe branco de carne delicada. Não deixe de visitar a Cervecería Austral, fundada em 1896, que oferece algumas das cervejas artesanais mais apreciadas do Chile. Para sobremesa, experimente uma torta de calafate acompanhada de chá quente ou mate: segundo a lenda, quem prova o calafate retorna à Patagônia.

O ambiente ao redor de Punta Arenas é certamente um dos mais remotos e sugestivos do planeta. Em poucas horas, é possível passar de um passeio urbano ao encontro de uma colônia de pinguins ou a uma excursão entre geleiras.

Uma das expedições mais emocionantes a partir de Punta Arenas é rumo à Isla Magdalena, no coração do Estreito de Magalhães. Acessível em cerca de duas horas de navegação desde o píer Tres Puentes, a ilha faz parte do Monumento Natural Los Pingüinos e abriga uma das maiores colônias de pinguins‑de Magalhães da América do Sul. Durante a estação de verão (novembro a março), mais de 120.000 pinguins chegam para nidificar. A visita se dá por um percurso delimitado, respeitando a fauna: os pinguins caminham livres ao lado dos visitantes, curiosos mas nunca assustados. A presença de gaivotas, cormorões e ocasionalmente leões‑marinhos enriquece o espetáculo natural. A travessia faz parte da experiência: frequentemente são avistados golfinhos, albatrozes e até mesmo baleias piloto ao longo do trajeto.

Menos conhecida, mas igualmente fascinante, é a enseada Otway (Seno Otway), uma baía costeira a cerca de 65 km de Punta Arenas, acessível por terra. Ali também se observa uma colônia de pinguins de Magalhães, menor que na Isla Magdalena, mas inserida num cenário de natureza ainda mais selvagem e silenciosa. A trilha a pé até a praia passa por turfeiras e paisagens abertas típicas da estepe patagônica. É um destino ideal para quem busca uma experiência mais íntima e menos turística ou dispõe de pouco tempo.

A cerca de 3 horas de carro rumo ao norte estende‑se o Parque Nacional Torres del Paine, um dos mais espetaculares parques naturais do mundo e destino icônico da Patagônia chilena. Algumas cruzeiros de expedição oferecem excursões diárias ao parque desde Punta Arenas ou Puerto Natales, com traslados terrestres e guias especializados. As protagonistas são as Torres, três agulhas de granito que se erguem verticais sobre lagos glaciais e vales. Mas o parque também é lar de guanacos, condores, raposas cinzentas e, com um pouco de sorte, do misterioso puma patagônico. Para quem dispõe de mais tempo, existem rotas icônicas de trekking, mas também passeios em veículos 4×4, caiaque ou caminhadas curtas ao redor do Lago Grey e Salto Grande. Cada canto do parque oferece paisagens de tirar o fôlego.

Totalmente diferente, mas igualmente impressionante, é o Parque Nacional Pali Aike, cerca de 2 horas de carro de Punta Arenas, próximo à fronteira com a Argentina. Esse local remoto é muitas vezes ignorado pelas rotas turísticas, mas é uma gema geológica e cultural. Pali Aike – que significa “lugar desolado” em língua aonikenk – é uma vasta paisagem vulcânica, pontuada por crateras extintas, lava solidificada e formações rochosas que parecem saídas de outro planeta. Ali foram encontrados alguns dos vestígios arqueológicos mais antigos da América do Sul, com assentamentos datando de mais de 11.000 anos. Caminhar entre as crateras do Vulcão Pali Aike ou observar as paisagens lunares em total solidão é uma experiência quase mística, perfeita para espíritos aventureiros.

Tudo em Punta Arenas é marcado por um senso de extremo: o clima, a paisagem, a luz que muda rapidamente, o vento que nunca para. E ainda assim, esta cidade sabe acolher calorosamente. Suas ruas largas e organizadas, cafés com atmosfera de outro tempo, livrarias dedicadas à Antártica e à Patagônia, galerias de arte e murais que enfeitam as fachadas: cada detalhe conta uma cidade viva, curiosa, nunca banal.

Frequentemente vista apenas como ponto de partida para destinos mais remotos, Punta Arenas merece atenção própria. A cidade combina uma oferta rica de história, natureza e cultura, sendo de fácil visita e perfeitamente integrada às rotas de cruzeiros de expedição. Aqui, o viajante tem a oportunidade de mergulhar desde já no ambiente único da Patagônia: descobrir culturas indígenas e assentamentos históricos, saborear produtos locais típicos, observar fauna característica de perto e compreender melhor a geografia extraordinária desta região.

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Giorgia Lombardo

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