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Seatrade Europe 2025: inovação e novos horizontes
Num panorama global marcado por transições ambientais, transformações regulatórias e novas expectativas por parte dos viajantes, a Seatrade Europe 2025 consolidou-se como o evento de referência para toda a comunidade de cruzeiros europeia e não apenas.
Realizado em Hamburgo, de 10 a 12 de setembro de 2025, sob o tema central “Future Forward”, o congresso reuniu mais de 140 palestrantes e dezenas de sessões de alta intensidade estratégica, tecnológica e operacional.
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Dos gigantes dos cruzeiros oceânicos aos protagonistas do setor fluvial, dos inovadores tecnológicos às instituições, todos se reuniram para debater como transformar a indústria dos cruzeiros em um motor de crescimento sustentável, inteligente e inclusivo. Com uma agenda abrangente e multidimensional, a Seatrade Europe ofereceu uma visão completa das prioridades, desafios e oportunidades que definirão os próximos anos do setor.
A conferência foi inaugurada com o discurso principal de Charles Bud Darr, Presidente e CEO da CLIA, que delineou com clareza as prioridades estratégicas da indústria de cruzeiros, tanto em nível global quanto europeu. Sua intervenção destacou a importância de uma visão unificada, capaz de conciliar as necessidades econômicas do setor com as crescentes exigências regulatórias e ambientais.
Em seguida, o painel “State of the European Cruise Industry: Future Forward” aprofundou as diretrizes para reforçar a competitividade, a resiliência e a centralidade da indústria de cruzeiros no contexto de uma Europa cada vez mais orientada para a neutralidade climática e para a evolução das políticas ambientais. Durante o debate, emergiram temas cruciais como a descarbonização das frotas, a digitalização dos processos, a inovação naval, o desenvolvimento das infraestruturas portuárias e as novas estratégias de emprego no setor. Esses elementos constituem hoje a base de uma transformação profunda da indústria de cruzeiros.
O objetivo é encontrar um equilíbrio entre o compromisso climático da União Europeia e a necessidade de garantir um crescimento econômico estável e duradouro. A indústria dos cruzeiros está, portanto, em plena mudança — tornando-se mais responsável, conectada e inovadora, pronta para enfrentar melhor os desafios de hoje e preparar-se para os de amanhã.
Uma das sessões centrais foi dedicada ao tema da Estratégia Industrial Marítima Europeia, com foco nas sinergias entre políticas públicas e inovação privada, a fim de sustentar a liderança europeia na construção naval e na produção de tecnologias sustentáveis. A evolução de iniciativas regulatórias como o FuelEU Maritime e o ETS, bem como a preparação para novos marcos legislativos (como o Clean Industrial Deal e o Sustainable Transport Investment Plan), confirma que a Europa busca tornar a indústria de cruzeiros não apenas mais verde, mas também mais autônoma e competitiva em escala global.
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Uma parte significativa do programa foi dedicada ao mundo dos cruzeiros fluviais, um segmento em forte expansão e cada vez mais sofisticado. Desde a sessão introdutória até o painel “State of the River Cruise Industry”, emergiu a imagem de um setor maduro, mas ainda repleto de potencial, empenhado em expandir-se para rios menos conhecidos, responder a crescentes exigências de infraestrutura e adotar de forma acelerada práticas sustentáveis.
Entre os temas mais transversais e estratégicos abordados durante a Seatrade Europe 2025, a sustentabilidade ambiental ocupou uma posição central, confirmando-se como o verdadeiro motor de transformação da indústria de cruzeiros. Diversos painéis e sessões temáticas exploraram a necessidade de transformar as ambições ecológicas em ações concretas, rápidas e mensuráveis. Particularmente relevante foi a reflexão sobre como o sistema de cruzeiros pode contribuir para a construção de ecossistemas marítimos sustentáveis, integrando o processo de descarbonização com uma visão holística da interação entre energia, oceanos e portos.
Nesse contexto, as infraestruturas portuárias foram apresentadas não apenas como pontos de trânsito logístico, mas como hubs estratégicos para a transição energética, chamadas a desempenhar um papel ativo na disseminação de tecnologias verdes e na gestão eficiente dos recursos.
Também foi dado amplo destaque ao tema do retrofit das embarcações existentes, com o objetivo de reduzir significativamente as emissões por meio da adoção de tecnologias avançadas. A modernização das frotas representa uma etapa crucial para a aproximação das metas climáticas de 2030, especialmente para um setor que ainda possui uma grande porcentagem de unidades operacionais movidas por combustíveis tradicionais. Paralelamente, discutiu-se o projeto dos navios do futuro — embarcações concebidas desde o início segundo critérios de flexibilidade energética, prontas para integrar diferentes soluções de propulsão, desde o GNL até as baterias e o hidrogênio, além de serem equipadas com sistemas digitais para a gestão inteligente do consumo de energia.
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A sustentabilidade, no entanto, não se limita à transição energética. A preservação da biodiversidade marinha surgiu como uma prioridade crescente, e várias companhias compartilharam iniciativas voltadas para a proteção ativa dos ecossistemas, adotando novas práticas operacionais, apoiando programas científicos e revendo suas rotas a fim de reduzir o impacto ambiental nos mares mais frágeis.
Nesse contexto, a shore power (energia em terra) é vista como uma das soluções mais urgentes e eficazes a curto prazo. Quando os navios se conectam à rede elétrica do porto enquanto estão atracados, podem desligar os motores e, assim, reduzir significativamente as emissões poluentes. Essa prática contribui para melhorar a qualidade do ar nas cidades próximas aos portos. Durante o evento, diversos especialistas destacaram a importância de acelerar a disseminação dessa tecnologia. No entanto, para isso, é necessário superar diversos obstáculos, como os altos custos de construção das infraestruturas, a falta de padronização dos sistemas e os problemas relacionados à disponibilidade de energia elétrica.
Além da shore power, foram discutidas outras soluções, como biocombustíveis, motores híbridos e módulos a hidrogênio. Todas essas alternativas serão fundamentais para construir uma estratégia de descarbonização que seja flexível, gradual e adaptada às diferentes necessidades das companhias, portos e fornecedores.
O conceito de “smart port” já é uma realidade indispensável. A sessão dedicada à inovação tecnológica nos portos mostrou como a inteligência artificial, os sistemas biométricos e a digitalização dos fluxos estão revolucionando a experiência dos passageiros e a eficiência operacional. Os desafios relacionados aos novos requisitos da União Europeia para entrada e saída (EES/ETIAS) foram abordados com abordagens inovadoras, como o uso de quiosques de autoatendimento, aplicativos integrados e interoperabilidade entre sistemas.
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As experiências em terra representaram um ponto crucial do debate na Seatrade Europe 2025, confirmando-se como um elemento estratégico para a evolução da oferta de cruzeiros. Diversas sessões destacaram que a satisfação dos hóspedes não depende apenas da qualidade da experiência a bordo, mas também do valor percebido das atividades realizadas nos portos de escala. A qualidade da recepção, a coerência entre a experiência e as expectativas e o nível de envolvimento cultural tornaram-se hoje parâmetros fundamentais na construção da customer experience.
Em particular, destacou-se a importância da formação do pessoal local como um fator decisivo para melhorar a interação entre os cruzeiristas e as comunidades anfitriãs. Investir no desenvolvimento das competências em terra significa garantir não apenas um serviço de nível superior, mas também uma recepção mais autêntica, capaz de refletir a identidade do território. Essa atenção ao capital humano está intimamente ligada a uma visão mais ampla de turismo responsável, em que os destinos não são apenas lugares a serem visitados, mas espaços de troca e valorização cultural.
Outro aspecto de relevância crescente diz respeito ao papel das redes sociais e das avaliações online na construção da imagem dos destinos. A narrativa digital dos passageiros influencia diretamente as decisões futuras de outros viajantes, bem como a reputação geral de um porto ou localidade. Em uma época em que o conteúdo gerado pelos usuários tem um impacto muitas vezes maior do que qualquer campanha publicitária, a experiência vivida no território assume uma força comunicativa poderosa.
Nesse contexto, as sessões dedicadas ao segmento de luxo e aos cruzeiros de expedição, como “Luxury Living at Sea” e “Expedition Experiences”, evidenciaram uma tendência clara para experiências mais exclusivas e culturais. Os hóspedes mais exigentes procuram maior tempo de permanência nos portos, interações significativas com as populações locais e atividades personalizadas, capazes de transmitir um sentido de autenticidade que não pode ser reproduzido em nenhum outro lugar.
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Por fim, surgiu um tema interessante e inovador: o papel da tripulação como verdadeira embaixadora dos destinos. Enquanto figuras de referência para os passageiros, os membros da equipa de bordo podem influenciar a perceção dos locais visitados, oferecendo sugestões, partilhando experiências pessoais e transmitindo valores ligados ao respeito cultural e ambiental. Esta nova abordagem valoriza o potencial humano da tripulação, transformando-a numa ponte entre o navio e o território, entre o cruzeiro e a comunidade.
O segmento de luxo continua a crescer rapidamente na Europa, impulsionado por uma demanda crescente por itinerários personalizados, navios de menor dimensão e uma experiência a bordo cuidadosamente elaborada. Nesse contexto, uma grande novidade foi o foco nos navios residenciais, nos quais a estadia prolongada nos portos altera completamente a relação com os destinos. Essa nova forma de turismo de longa duração exige modelos de envolvimento urbano mais profundos, serviços personalizados e um diálogo contínuo entre o navio e a cidade.
Outro tema central abordado durante a Seatrade Europe 2025 foi o impacto da transformação demográfica na indústria dos cruzeiros. A composição do público-alvo está a mudar profundamente, com a entrada cada vez mais expressiva das novas gerações e a afirmação de modelos de viagem mais fluidos, inclusivos e intergeracionais. Essa evolução está a levar as companhias a rever de forma radical a maneira como concebem a experiência tanto a bordo quanto em terra.
Os novos viajantes não procuram simplesmente umas férias, mas uma experiência que reflita os seus valores e se adapte ao seu estilo de vida. A autenticidade tornou-se uma palavra-chave: cada elemento da viagem — da gastronomia ao entretenimento, das excursões à comunicação — deve ser genuíno, credível e conectado com o contexto local. A flexibilidade é outro requisito essencial: as novas gerações tendem a construir itinerários personalizados, combinando trabalho e lazer, viagens a sós, estadias com amigos ou com várias gerações da mesma família.
Em resposta a essa nova procura, as companhias estão a adotar estratégias de adaptação cada vez mais sofisticadas. No que diz respeito ao design dos espaços, observa-se uma evolução no desenho das cabines, orientada para a modularidade e a personalização. As acomodações devem ser adequadas tanto para famílias multigeracionais quanto para viajantes individuais, oferecendo funcionalidades diferentes conforme as necessidades. Os modelos de preços seguem uma lógica semelhante, tornando-se mais dinâmicos e segmentados, de modo a oferecer opções personalizadas que reflitam tanto a disponibilidade económica quanto o tipo de experiência desejada.
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Também a programação das atividades a bordo está a passar por uma transformação, apostando numa maior variedade e numa acessibilidade mais inclusiva. As experiências devem comunicar com diferentes públicos, não apenas em termos de idade, mas também de origem cultural, orientação, língua e interesses pessoais. A inclusividade já não é uma opção, mas uma condição essencial para garantir relevância e competitividade num mercado global cada vez mais atento à representação e ao respeito pela diversidade.
O bem-estar, entendido num sentido holístico, está a afirmar-se como outro elemento fundamental da nova geração de cruzeiros. Não se trata apenas de spas e atividades físicas, mas também de espaços para relaxamento mental, programas de mindfulness, alimentação saudável e ambientes concebidos para estimular o equilíbrio e a regeneração. Neste contexto, a sustentabilidade entrelaça-se com o bem-estar e com a responsabilidade social, tornando-se uma parte integrante da proposta de valor percebida pelos passageiros.
A Seatrade Europe 2025 também destacou novos cenários de crescimento e desenvolvimento, ampliando o foco para mercados emergentes e dinâmicas internacionais. Em particular, as regiões do Médio Oriente, da Índia e da Ásia-Pacífico afirmaram-se como protagonistas de uma narrativa cada vez mais global sobre o futuro da indústria dos cruzeiros.
O Médio Oriente está a investir fortemente nos portos e pretende tornar-se um destino de referência para cruzeiros de inverno, oferecendo itinerários de luxo que combinam cultura, relaxamento e paisagens únicas. O objetivo é transformar-se num centro de cruzeiros estável e sustentável, e não apenas numa paragem exótica. A Índia também está a crescer no setor, graças ao projeto governamental “Cruise Bharat”, que visa melhorar os portos, simplificar os controlos e atrair mais turistas, tanto indianos como estrangeiros. O sucesso dependerá da colaboração entre o governo e as empresas privadas.
Na região Ásia-Pacífico, a situação é diversificada: a Austrália continua a crescer impulsionada pelo mercado interno; países como o Japão e o Sudeste Asiático estão a recuperar após a pandemia; já a Nova Zelândia enfrenta uma diminuição nas chegadas, devido a novas regulamentações e a uma maior sensibilidade ambiental.
Estas ideias levaram também a uma reflexão prática sobre o desenvolvimento de novos portos em áreas ainda pouco exploradas. A construção de novos terminais não é vista apenas como um trabalho técnico, mas como uma oportunidade para integrar, desde o início, aspetos essenciais como a sustentabilidade, o respeito pela cultura local e o envolvimento das comunidades. É claro que o sucesso de um novo destino não depende apenas da capacidade de receber grandes navios, mas também da qualidade da experiência em terra, da história que o lugar transmite e dos valores partilhados ao longo de toda a viagem.
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Outro tema central que surgiu durante a conferência foi o trabalho no setor de cruzeiros, que hoje se encontra no centro de importantes transformações. A indústria, cada vez mais complexa, precisa de profissionais com competências modernas, especialmente nas áreas digital, ambiental e cultural. É, portanto, necessário atualizar os programas de formação, melhorar o recrutamento a nível global e reforçar o bem-estar dos trabalhadores a bordo. Oferecer um ambiente de trabalho seguro, inclusivo e estimulante é essencial, sobretudo para atrair os jovens, para os quais o setor dos cruzeiros pode representar uma verdadeira oportunidade de carreira. Tornar o setor mais atrativo também do ponto de vista profissional é agora uma prioridade para garantir o crescimento sustentável no futuro.
A Seatrade Europe 2025 demonstrou que o mundo dos cruzeiros já não é apenas uma parte do turismo, mas sim um verdadeiro espaço de inovação e transformação. Os navios tornam-se cada vez mais modernos, os portos evoluem, a experiência dos passageiros é reinventada, e as destinações expandem-se para novas regiões do mundo. Tudo isto transmite uma mensagem clara: o futuro dos cruzeiros será guiado pela sustentabilidade, pela inteligência e pela vontade de melhorar.
Gabriele Bassi
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